Silêncio e isenção
Nuno Pombo * (Mar-2007)
O instável equilíbrio entre silêncio e isenção é seguramente uma das muitas dificuldades com que se debatem os presidentes da república. E talvez a mais relevante.
(...) Vieram-me estas ideias a propósito da posição adoptada pelo presidente da república no último referendo. Os seus adversários, ainda na campanha eleitoral, procuraram expor o que consideravam ser uma fragilidade, e o candidato, com a abnegação que se lhe conhece, furtou-se a revelar o que pensava sobre o assunto. Já presidente, manteve fidelidade, não porventura aos seus princípios, mas ao silêncio que tornou possível a sua eleição. Esperar-se-ia, penso eu, bem mais do que nada do chefe do Estado. Em questões estranhas ao governo, em assuntos de consciência, como se repetiu abundantemente, um silêncio como o que ouvimos abre espaço a um tremendo vazio que me leva a reflectir sobre a própria desnecessidade deste tipo de funcionalismo público, sobretudo em época de constrangimentos orçamentais. Silêncio tão mais inexplicável quanto é sabido que neste sensível tema de consciência o primeiro-ministro e muitos dos seus mais exaltados acólitos não primaram pela abstenção.
A Instituição Real, por se encontrar ancorada numa legitimidade própria, solta dos espartilhos castradores da partidocracia, permite que a voz do chefe do Estado seja ouvida por todos com a autoridade que resulta da sua condição e da sua missão. O Rei respira liberdade e, só por isso, qualificaria a nossa democracia. Sem o perigo de se afundar na inevitável desconfiança que mina as relações entre os servos do clientelismo partidário e os súbditos da coisa pública, em prejuízo da Nação. De todos nós.
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