Portugal e o seu Futuro
João Mattos e Silva* (Ago-2007)
É quase impossível, para quem não se limita a ser português por determinismo geográfico, não comentar as declarações do escritor e Prémio Nobel José Saramago, de que Portugal haverá de integrar-se politicamente em Espanha, constituindo um grande país ibérico. Saramago não será o único a pensá-lo, mas foi dos poucos a dizê-lo alto e bom som. Não sei se ele é iberista, à moda do século XIX. Calculo que não está a pensar numa Europa federal, dominada por uma perspectiva liberal, ele que é militante do PCP que é ferozmente contra a UE e marxista-leninista. Como sei que não estará a pugnar por uma grande monarquia ibérica em que as nacionalidades estejam unidas sob a Coroa dos Bórbons.
Saramago estará, vendo de Espanha, a constatar uma realidade, que é a de que o país vizinho, pela pujança da sua economia vai a pouco e pouco dominando o mercado português em muitos sectores e que a economia é determinante nas escolhas políticas. Esta a sua constatação pragmática. Porque a sua utopia está expressa há muitos anos num romance: a península ibérica separando-se da Europa, revolucionária, comunista.
A indignação que dominou algumas boas almas, incluindo comentadores habituais da nossa comunicação social, deveria centrar-se menos no escritor e mais nas razões, que ele não enunciou, que levam a que muitas pessoas – segundo uma sondagem, 25% de portugueses – vejam numa integração num estado peninsular uma solução para a aparente falta de solução de Portugal. Razões que são sobretudo económicas mas também políticas.
Se é verdade que a questão das nacionalidades tem vindo a crescer em algumas regiões espanholas, que os povos que se não revêem no predomínio da velha Castela vão acentuando esse sentimento na manifestação das diferenças históricas e culturais, desde logo pelo uso ostensivo da língua na sua comunicação, é também verdade que o que constitui um fortíssimo elemento agregador é a Coroa. Por isso os independentistas se proclamam republicanos e rejeitam a Monarquia espanhola.
O poder agregador da Monarquia – não foi por acaso, mas por um acto de inteligência, que o PSOE desde sempre republicano e o PCE aceitaram e apoiaram a monarquia como factor de fortalecimento do Estado, depois do franquismo – é um facto e o fascínio pela dinastia uma realidade que funciona como uma força centrípeta. Quer se queira ou não, a Monarquia é uma das principais forças de atracção e de afirmação interna e externa da Espanha moderna. Os espanhóis sabem-no e os portugueses, mesmo se não o dizem, também sabem.
Ao olharmos para esses sinais de iberismo, que não são ainda de alarme, seria bom determo-nos em todos os aspectos que o motivam. Os mais objectivos e os mais subjectivos, os mais visíveis e os mais ocultos. Sabem-no os monárquicos que o Rei garante melhor a independência externa da Nação e do Estado – porque é a presença do passado que se projecta no futuro – do que um Presidente que é apenas, por escassos anos, um pedaço do presente e pode ser, como já foi entre nós, um federalista, ou poderá mesmo ser um iberista. Aos que querem preservar a independência de Portugal dentro do quadro Europeu convido a que meditem também na forma do regime, de forma desapaixonada. Porque o País é mais importante do que qualquer preconceito, como o caso espanhol é demonstrativo
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1 comentário:
Eis uma análise que me deu prazer ler. Só não concordo quando se diz que "...sinais de iberismo, que não são ainda de alarme...". Para mim, basta andar na rua e falar sobre o assunto. Neste momento, as pessoas confundem tudo, sobretudo quando o pão começa a escassear na mesa...
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