quinta-feira, outubro 19, 2006
Afinal, que querem eles ?
Uma cultura da morte
José Antonio Saraiva, Sol, 14-10-2006
A atracç ão pela morte é um dos sinais da decadência.Portugal deveria estar, neste momento, a discutir o quê?Seguramente, o modo de combat er o envelhecimento da população. Um país velho é um país mais doente.Um país mais pess imista.Um país menos alegre.Um país menos produtivo.Um pa ís menos viável – porque aquilo que paga as pensões dos idosos sã o os impostos dos que trabalham. Era esta, portanto, uma das questões que Portugal deveria estar a deb ater.
E a tentar resolver. Como? Obviamente, promovendo os nascimentos.Facilitando a vida às mães solteiras e às mães separadas.Incent ivando as empresas a apoiar as empregadas com filhos, concedendo facilidade s e criando infantários. Estabelecendo condições especiais para as famílias numerosas.Difundindo a ideia de que o país precisa de crianças – e que as crian ças são uma fonte de alegria, energia e optimismo.Um sinal de saú de.Em lugar disto, porém, discute-se o aborto. Discutem-se os casamentos de homossexuais (por natureza estéreis).Debate-se a eutanásia.Promove-se uma cultura da morte.
Dir-se-á , no caso do aborto, que está apenas em causa a rejeição dos julgamen tos e das condenações de mulheres pela prática do aborto – e a poss ibilidade de as que querem abortar o poderem fazer em boas condições, e m clínicas do Estado. Só por hipocrisia se pode colocar a questão assim.Todos já pe rceberam que o que está em causa é uma campanha.O que está em cur so é uma desculpabilização do aborto, para não dizer uma promo ção do aborto.Tal como há uma parada do 'orgulho gay', os militan tes pró-aborto defendem o orgulho em abortar. Quem já não viu mulheres exibindo triunfalmente t-shirts com a fras e «Eu abortei»?
Ora, dêe m-se as voltas que se derem, toda a gente concorda numa coisa: o aborto, me smo praticado em clínicas de luxo, é uma coisa má.Que deixa traum as para toda a vida. E que, sendo assim, deve ser evitada a todo o custo.A posição d o Estado não pode ser, pois, a de desculpabilizar e facilitar o aborto – tem de ser a oposta.Não pode ser a de transmitir a ideia de que u m aborto é uma coisa sem importância, que se pode fazer quase sem pensar – tem de ser a oposta. O Estado não deve passar à sociedade a ideia de que se pode abortar à vontade, porque é mais fácil, mais cómodo e deixou de ser crime. Levada pela ilusão de que a vulgarização do aborto é o fut uro, e que a sua defesa corresponde a uma posição de esquerda, muita ge nte encara o tema com ligeireza e deixa-se ir na corrente. Mas eu pergunto: será que a esquerda quer ficar associada a uma cultu ra da morte?Será que a esquerda, ao defender o aborto, a adopção por homossexuais, a liberalização das drogas, a eutanásia, quer ficar ligada ao lado mais obscuro da vida? No ponto em que o mundo ocidental e o país se encontram, com a popula ção a envelhecer de ano para ano e o pessimismo a ganhar terreno, não seria mais normal que a esquerda se batesse pela vida, pelo apoio aos nasc imentos e às mulheres sozinhas com filhos, pelo rejuvenescimento da socie dade, pelo optimismo, pela crença no futuro? Não seria mais normal que a esquerda, em lugar de ajudar as mulheres e os casais que querem abortar, incentivasse aqueles que têm a coragem de decidir ter filhos?
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