segunda-feira, novembro 06, 2006

Discutir o Iberismo, por Carlos Luna

«Voltou a estar na moda apontar uma eventual união Portugal-Espanha para resolver os grandes problemas do povo português. Tudo isto partindo de um estudo em que quase 28% dos inquiridos manifestava tal opinião, e que foi referido quase até à exaustão... esquecendo-se que no mesmo estudo quase 70% dos inquiridos acreditava ser Portugal um país viável.
Desgosta-me ver pessoas tratar destes temas de Unificação Ibérica em termos tão ligeiros e irresponsáveis. Deveria ser já tempo de se falar de assuntos polémicos com profundidade. Pessoalmente, não sou a favor duma União Ibérica. Parece-me ridículo pôr em causa uma independência de 850 anos, que nunca se teria mantido se não fosse sólida e justificada. Já é suficiente, sem discutir se terá sido o caminho correcto, a "dissolução" (relativa...) na União Europeia, onde, como Estado Soberano, temos voz igual aos outros membros. Numa União Ibérica, até essa igualdade se perderia. Todavia, penso que os que a defendem como uma solução para Portugal no quadro de uma Confederação o fazem convictos de que querem conservar uma cultura portuguesa distinta, e merecem ser respeitados, mesmo discordando da ideia!
Enfim, igualmente aqueles que, ao defender uma Unificação Ibérica, defendem o aniquilamento puro e simples de Portugal, e a sua "castelhanização", também têm o direito de o afirmar sem receio de represálias. Contudo, na minha opinião, merecem-me menos respeito. Na verdade, aniquilar um País só porque atravessa um momento de crise parece-me ilógico e revelador de falta de confiança... e mesmo de imaginação. Defender que outros vão fazer o que a nós compete fazer é muita ingenuidade.
E, já agora, porque defender a opção espanhola? Revelaria mais imaginação (e MUITO maior proveito económico) uma federação marítima ("talassocrática") com a Holanda ou com a Dinamarca, por exemplo... O facto de partilharmos uma Península com um Estado não nos obriga a unir-nos por motivos "geográficos"...assim como a Suécia e a Noruega não se unem só porque partilham a península escandinava. O facto de se dizer que "Portugal saiu da Espanha", para além de errado (Portugal "saiu" do Reino de Leão, a Espanha não existia), a nada nos obriga também. Os holandeses e os suíços saíram da Alemanha... e não me consta que se defenda a sua reunificação com a pátria original. Todos estes argumentos escondem uma profunda incapacidade de pensar assuntos sérios com profundidade e num espírito construtivo, e revelam a preguiça de pensar Portugal a partir do que ele é. Melhor, revelam a preguiça de pensar. É muito mais cómodo (e parece ser moda) desistir e dizer que não vale a pena porque não se vai chegar a lado nenhum. Presume-se que os outros serão tão incapazes como quem o proclama. Talvez o mais preocupante seja verificar que a razão principal, quando não a única, dos que defendem a União Portugal-Espanha, é de natureza económica... ou interesseira. "Se fôssemos espanhóis, ganharíamos mais, já que eles ganham mais". Esta frase aparece em quase todos os inquéritos. O erro é evidente: quase sempre ao longo da História, Portugal repetiu um erro: esperar que a riqueza viesse ter ao seu encontro. Tal sucedeu na Época da Expansão, e noutras épocas mais ou menos favoráveis. As elites preferiam viver de rendimentos, pouco arriscando em busca de novas fontes de enriquecimento...principalmente se passavam por produzir algo de novo no seu próprio país... O povo em geral ia vivendo mal, e verificava que quem prosperava era quem menos riqueza produzia... quando não lançava mão de métodos menos honestos. Ser "esperto", "desenrascar-se", era muito mais rentável do que matar-se a trabalhar. Trabalho que, aliás, era visto como algo de pouco dignificante. O trabalho não era apanágio das classes dominantes. Uma mentalidade que ainda não foi de todo ultrapassada. O que se espera, muitas vezes, de uma União Ibérica é que estrangeiros façam por nós aquilo que nós próprios não conseguimos fazer. Uma ilusão. Imaginemos Madrid a subir o nível de vida em Portugal de um momento para o outro. Como iria buscar recursos para tal? Só tirando-os a regiões espanholas, que não o iriam aceitar nunca. Não se deve esquecer também que a tendência geral seria tirar Centros de Decisão de Portugal (por exemplo, sedes de empresas) para os aproximar de Madrid. Aliás, isso já sucede.
E se hoje o Poder político de Lisboa pode tentar contrariar livremente essa dita tendência, muito mais dificilmente o faria não sendo um Poder Independente. Há quem argumente que o Poder Central em Portugal poucas decisões acertadas toma para desenvolver Portugal e o nível de vida das suas populações. Mas... porque existe uma "coisa" chamada Independência Nacional, os portugueses podem, livremente, decidir votar em políticos mais eficazes. Usando uma expressão comum, podem até "derrubar o governo". Ninguém poderá interferir.
Mas... imagine-se que Portugal não era um Estado Soberano. Em caso de descontentamento com o Poder Central... como derrubá-lo...situando-se ele fora do território nacional... e sendo compartido com outras regiões? Já se meditou seriamente sobre isso? E... como se faria caso, após uma união ibérica, os interesses portugueses chocassem com os interesses de Madrid? Proclamava-se nova separação? E como reagiriam a isso as autoridades espanholas? Não se pretende com estes exemplos dizer que se "desconfia das intenções da Espanha", ou que "a Espanha é a bruxa má desta questão". Não. O que se pretende é que se medite seriamente nos riscos que se corre ao abdicar-se de uma Soberania Plena.
As lições de 1580-1640, e as da Guerra que se seguiu, deveriam ser muito bem estudadas. Não porque a História se repita, mas porque, por vezes, os exemplos do passado nos podem ajudar a projectar o futuro com mais sabedoria. Não creio, também, que o Povo Espanhol esteja "preparado" para tal tipo de União. Infelizmente, muitos encaram-na, ainda que inconscientemente, como uma "reunificação", ou "absorção". Na verdade, 44% dos espanhóis, contra 38%, declarou num estudo recente que Espanha deveria ser o nome de um eventual Estado Ibérico Unificado. E, nesse mesmo estudo, 80% dos inquiridos do País vizinho considerou que a Capital deveria ser Madrid, só 3% opinando por Lisboa.
Parece, pois, que uma União Ibérica levaria, quase seguramente, a uma centralização, directa ou indirecta, de poderes no Centro da Península...e, com o tempo, a uma despersonalização de Portugal. O exemplo da despersonalização efectuada, e ainda existente, em Olivença, dá que pensar. Quase me atreveria a perguntar a iberistas de vários quadrantes, quando vêem Portugal enquanto província ou Estado integrado numa "Ibéria", se deveria incluir Olivença (e Táliga) dentro do seu espaço, ou se deveria continuar em espaço alheio. Em termos históricos, e para concluir (e muito mais haveria a dizer), direi que nunca um povo ou um país prosperaram abdicando da sua existência. Nenhum estrangeiro (Espanhol, Francês, Alemão) nos virá "ajudar" sem pedir nada em troca. E sem ter tendência a monopolizar os cargos superiores e mais bem pagos... Terça, 31 de Outubro de 2006 - 13:07»
Carlos Luna carlosluna@iol.pt

4 comentários:

Al Cardoso disse...

Caro senhor Luna:

Eu que tambem nao sou "Iberista", nao poderia ter escrito melhor que o meu amigo.

Anónimo disse...

Sempre que há crise económica, sempre que não se vislumbra futuro, lá vem o iberismo.
O último grande acesso de iberismo em Portugal aconteceu em meados do s.19. Aliás, a dado momento alguns dos ideólogos republicanos são também iberistas. Não todos, reconheça-se.
Isto faz parte do nosso pessimismo. Mas não só, faz também parte da estreiteza de horizontes a que nos autocondenamos desde há 200 anos. Somos masoquistas sem o sabermos.
Vale lembrar um exemplo europeu que poderia ser similar ao iberismo, mas que é precisamente a exemplificação do anti iberismo: a Holanda vs.Alemanha.
Há uma similitude profunda entre a Holanda e a Alemanha com Portugal e Espanha: com Portugal e Espanha: a mesma proporção populacional, a mesma proximidade línguística, a mesma continuidade geográfica, a mesma prepoderância económica de um sobre o outro, a mesma unidade nacional e pequenez territorial de um contra a diversidade cultural e extensão do outro. E, no entanto, não passa pela cabeça de nenhum holandês querer ser alemão. Porque pura e simplesmente ser holandês é diferente de ser alemão.
Tal como connosco. Ser português é muito diferente de ser espanhol.
Então, onde está a diferença? Está nos políticos e jornalistas de Portugal e da Holanda, nos que determinam o que se ensina nas escolas e nos que dominam a comunicação social.
Os nossos políticos desde há duzentos anos para cá são uns merdalheiros. Os políticos holandeses, esses, são honestos e competentes. Logo, eles, são ricos, progridem, e têm orgulho no seu país. Nós, somos pobres, não avançamos, e repetidamente vem a conversa de caca de integração em Espanha.
Uns merdalheiros, os nossos políticos, os nossos jornalistas.
P.Belém
petrusport@hotmail.com

Anónimo disse...

OLIVENÇA É PORTUGUESA!
Apesar de Espanha ter tido "ROUBADO" uma parcela do território Português, OLIVENÇA é o orgulho da Pátria Portuguesa!

Anónimo disse...

PORT-U-GAL , nome de Portugal em Gaélico.
Só sei além disto que na linguagem Celta ,GAL significa "estrangeiro".
Os Gaélicos ,a quem os Irlandeses chamam muitas vezes «filhos de Milé»,são Celtas «vindos de fora».
Resumo de Jean Markale (A Grande Epopeia Dos CELTAS).
Um Dia, a Terra Das Oliveiras(Olivença)Fundada pelos Templários de PORT-U-GAL ,será Devolvida á Pátria Mãe.
Muito Bem Haja Sr. Prof. Dr. Carlos Luna.