terça-feira, dezembro 19, 2006

O Século XX, por Luís Aguiar Santos



ESTE ANO: Em Dezembro são publicados dois números de uma revista que dá pelo nome de "Homens Livres" e junta, nas suas páginas, intelectuais que dizem professar ideias muito diferentes. Mas nela, surpreendentemente, parece que se une todo o espectro ideológico da intelectualidade portuguesa desta época. Estão lá os principais nomes da revista republicana "Seara Nova" (António Sérgio - na fotografia-, Jaime Cortesão, Raul Proença), os “tradicionalistas” do Integralismo Lusitano (António Sardinha e Pequito Rebelo), um anarquista como Aurélio Quintanilha e outras sensibilidades. Os "Homens Livres", na própria capa da revista, definem um adversário comum no subtítulo que lhe dão: «livres das finanças e dos partidos». No editorial do primeiro número, António Sérgio rejeita a divisão entre esquerdas e direitas e diz que a única distinção válida é entre aqueles a que chama «homens do século XIX» e os «homens do século XX». Os "Homens Livres", na sua diversidade, apresentam-se como os homens novos do novo século. Têm uma concepção mística da política e das suas possibilidades e acreditam numa ideia de unidade nacional que suplante o conflituoso pluralismo que vêem à sua volta. Nesta atitude estão muito próximos do republicanismo dos tempos da propaganda durante a Monarquia. Aquilo que rejeitam são as tradições políticas legadas pelo parlamentarismo do século XIX e que, de facto, no meio da sua atribulada existência, a República preservou. O republicanismo presente nos "Homens Livres" é, por isso, o dos republicanos puros que, no início da República, não queriam compromissos com nada que fosse herdado da Monarquia constitucional, como a Igreja, o espírito partidário do parlamentarismo, o meio dos negócios, um mundo no fundo onde todas estas coisas conviviam. Da mesma forma, o monarquismo de parte dos "Homens Livres" é o dos monárquicos novos, antiliberais e que nada têm a ver com essa Monarquia que existiu até 1910. Na revista "Homens Livres" está assim patente uma rejeição do caminho que a República parece estar a querer tomar neste ano de 1923: o da sua estabilização financeira, pacificação bipartidária, compromissos, acantonamento dos sectarismos e regresso à pacatez do business as usual. Aos "Homens Livres" e ao seu idealismo cívico tudo isso cheira demasiado a século XIX...

4 comentários:

Anónimo disse...

Por que razaão começaram por 1923, numa rubrica sobre o séc. XX?
O conteúdo é giro mas não percebo a ideia

Anónimo disse...

Eu cá não gosto nada do cheiro de homens do século XIX... O que eu gosto é de cheiro de mulheres do Séc. XXI, de manhã, tázaver?

Anónimo disse...

E NINGUÉM FALA DO ENTUSIÁSTICO MOVIMENTO PÓS-ROMÂNTICO DAS «MULHERES LIVRES»? DO FUNDAMENTALISMO NEO-CONSERVADOR DAS NOVAS TRADIÇÕES ISLÂMICO-TOTÉNICAS DO SUL NO DIÁLOGO LESTE-OESTE DA COVA DA MOURA PARA O PALÁCIO DAS NECESSIDADES??

Anónimo disse...

Desculpem, mas a ver se consigo entender só já antes de agora… Na revista "Homens Livres" está assim uma patente de major em clara rejeição do fígado a caminho de uma cirrose da República: o da sua estabilização financeira, pacificação bipartidária, compromissos, acantonamento dos sectarismos e regresso à pacatez do business as usual. AI QUE SUSTO!!!...