Um artigo publicado no Diário de Notícias (23.04.07) contrário à iniciativa da APL de construir o novo Terminal de Cruzeiros de Lisboa e diversas reacções ao assunto no blogue CIDADANIA LX motivaram a minha reflexão sobre o assunto apresentada abaixo:
O maior erro associado ao projecto do novo Terminal de Cruzeiros de Lisboa reside no atraso da iniciativa em cerca de 10 anos. Em termos históricos pode fazer-se uma analogia sobre o que apareceu primeiro - o ovo ou a galinha - o que adaptado à nossa Ulisseia se lê - a cidade ou o porto?Foram as condições naturais únicas do estuário do Tejo que ao longo dos séculos propiciaram a cidade portuária de Lisboa. A zona Terreiro do Paço - Santa Apolónia onde se vai inserir o novo terminal de navios de passageiros é um local de grande tradição marítima, cuja última intervenção ocorreu em 1998 quando da Expo.A Doca do Jardim do Tabaco e os cais adjacentes está praticamente abandonada e em profunda degradação. Apesar do livre acesso actual, a população não enche o local, assim como os Lisboetas não enchem o Tejo de velas e outras manifestações náuticas, pela razão simples de que hoje as pessoas parecem ignorar o Mar, os Navios e a água. A presença de navios atracados aos cais de Lisboa empresta à cidade uma dimensão cromática e de formas que realça as linhas naturais da cidade e a sua vocação natural para as coisas marítimas. O terminal de cruzeiros é necessário com a maior urgência. Pode-se discutir a opção estética das soluções arquitectónicas, mas não se deve pôr em causa as funcionalidades portuárias. Porque o PORTO é uma peça fundamental da CIDADE em Lisboa. Pena é que muitas áreas de negócio marítimo tradicionais de Lisboa se tenham evaporado nas últimas décadas.Os cruzeiros são hoje um dos segmentos da indústria turística internacional com maior taxa de crescimento. Lisboa já perdeu há muito uma possível liderança na Europa Ocidental como porto de embarque e desembarque de cruzeiros a favor de Barcelona. As infraestruturas existentes são insuficientes perante a procura e o novo terminal só peca por atraso.O local de inserção do novo terminal é excelente. Vai trazer mais valias à zona e proporcionar uma vista privilegiada de Lisboa para quem por umas horas nos visita a bordo de um navio. Muito melhor que na zona Alcântara - Rocha, com um enclave de contentores pelo meio.Em Portugal parece que as pessoas teimam em cultivar uma resistência retrógada à mudança.
Foi assim quando Pombal aproveitou o terramoto para arrasar a baixa e reconstruir tudo de raiz. Andou-se 100 anos a discutir as generalidades da construção de um Porto em Lisboa, iniciativa que só teve concretização no final do século XIX. Tudo isso é atraso. Atraso ao nível de mentalidades, divórcio face às dinâmicas do presente. O Portugal dos pequeninos acarinhado pela inquisição, por Salazar...Por mim manifesto uma enorme satisfação pela iniciativa da APL. Quanto mais navios em Lisboa melhor. Pena que nenhum seja português...
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário