sábado, setembro 01, 2007

Barragem do Baixo Sabor

ANTÓNIO CERVEIRA PINTO - sobre a Barragem do Baixo Sabor - e o comunicado da CIP


Um comunicado indigente, em péssimo português e pior economês...
BARRAGEM DO BAIXO SABOR COMUNICADO DA CIP

[quote]A CIP APLAUDE a decisaõ de se dar um novo impulso à realização do programa de aproveitamentos hidroeléctricos. Desta forma, o Governo não só cumpre o que, em devido tempo, estabeleceu como objectivos nacionais para a promoção das energias renováveis e para o melhor aproveitamento dos recursos nacionais, como o faz no sentido certo.[/quote]

A CIP não sabe que a energia hídrica tem uma presença negligenciável no consumo total de energia em Portugal?A CIP não sabe, por outro lado, que as barragens têm servido sobretudo para a proliferação de desportos náuticos movidos a petróleo e a construção de "resorts" turísticos, que por sua vez atraem consumos energéticos intensos, produção de CO2 e metano e escandalosos gastos de água com os inevitáveis campos de "golf"?

[quote] AS vantagens desta decisão, desde sempre defendida pela CIP, já foram indicadas e são esmagadoras: · Criação de condições técnicas necessárias para o sistema eléctricoPortuguês acomodar, com segurança, os elevados níveis de potência eólica previstos para Portugal para os próximos anos, através do “armazenamento” de energia, por bombagem, dos excedentes de produção eólica nos períodos de menor consumo.[/quote]

O que esta algaraviada pretende dizer é que o génio Pimenta convenceu a CIP (não precisava!) de que manter as eólicas a trabalhar durante a noite para trazer de volta às albufeiras a água despejada durante as descargas provenientes do funcionamento das turbinas, permitirá finalmente criar uma máquina perpétua! Mas a que preço?Sabemos hoje que a retenção dos sedimentos orgânicos nas albufeiras, junto às barragens, que a EDP tem a obrigação de depositar regularmente nas embocaduras dos rios, mas não cumpre, preferindo vender a matéria orgânica e os detritos a empresasirresponsáveis, quebra o ciclo ecológico que há milhares de milhões de anos estabelece um importantíssimo regime de trocas entre a terra e o mar, sem o qual o planeta vivo que conhecemos nunca teria chegado a existir, e que, por causa desta evidente estupidez, poderá estar neste preciso momento a ser seriamente comprometido. As falésias caem por toda a costa portuguesa, em boa pare por causa destas e outras irreverências humanas.
E além do mais, se as ventoinhas não descansarem, o seu desgaste será maior e durarão menos, i.e. haverá uma maior rotação de capital fixo (investimentos mais frequentes, mais produção industrial, mais transportes, mais especulação bolsista, mais concentração,....) e mais subsídios públicos às empresas produtoras/fornecedoras de electricidade, como a EDP, a Iberdrola, a Fenosa, etc.
A CIP fez estas contas? Seria mais útil começar por aí, em vez de se apressar a emitir comunicados disléxicos, reverentes e obrigados.
[quote] · Gestão energética e hídrica do Rio Douro em situações extremas de seca e melhor utilização da potência hidroeléctrica instalada a jusante deste Rio.[/quote]

O que é uma gestão enérgica e hídrica do rio Douro?! Onde fica a potência hidroeléctrica a jusante do rio Douro?! Na Bemposta? No Picote? Em Miranda do Douro? No Pocinho? No Carrapatelo? Em Crestuma? No Torrão? Em Viseu? No Douro internacional?
Tencionam a CIP, a EDP, a SOMAGUE (hoje maioritariamente espanhola) e a Teixeira Duarte promover a retenção generalizada das águas nas albufeiras (através do mecanismo de reversão das descargas) nas 43 barragens da bacia do Douro? Só em algumas? Quais? Porquê? Têm números sobre o assunto? Sabem do que falam?

[quote] · Redução da dependência externa induzida pelas centrais de ciclo combinado a gás natural.[/quote]

Mas o assunto deste comunicado não são as barragens e em particular a barragem destinada a destruir o rio Sabor?

[quote] · A contribuição para o cumprimento das metas de emissão de CO2 a que o País se comprometeu.[/quote]

Esta frase é o fruto de uma mistificação completa dos dados sobre as causas da elevada intensidade energética da nossa economia, dos elevadíssimos níveis de ineficiência energética e dos escandalosos níveis de produção de CO2. Infelizmente, a grave situação em que o país se encontra é uma consequência directa no analfabetismo endémico da CIP e dos seus associados. Digo infelizmente, porque um mal destes não se cura de um dia para o outro. A não ser que a Europa eficienteentre por aqui adentro mais depressa que o esperado...

[quote]A CIP realça os efeitos multiplicadores para a Indústria e para a economia que resultarão da realização deste programa e que excedem, em muito, a melhoria do perfil energético e da segurança do abastecimento de electricidade.[/quote]

Algaraviada sem nexo!

[quote] A construção de vários aproveitamentos hidroeléctricos em prazo próximo será levada a cabo com uma grande incorporação nacional, quer em projectos, quer em realização de obras, potenciando o emprego e, sobretudo, a tão desejável oferta em áreas especializadas.[/quote]
Onde está o famoso efeito reprodutivo do Alqueva? Não continua o Alentejo às moscas? Não chegaram à conclusão que o melhor, agora, é vender as margens da albufeira ao mercado imobiliário, para projectos turísticos, mais campos de golfe, mais motas de água, ao mesmo tempo que se vão vendendo as herdades às empresas espanholas para queelas expandam os seus agressivos negócios agro-industriais e agro-energéticos? Já viram uma imagem de satélite de Almeria? Então vejam!!

[quote] A CIP acompanha com interesse e empenho o esforço na criação de novos clusters, de que é exemplo a nova fileira das energias renováveis mas, recorda que, para as barragens, o know-how e a capacidade de realização já existem e são internacionalmente reconhecidos como competitivos.[/quote]

Balelas! Para já, as renováveis só estão a ser encaradas pelo lado do lucro fácil das empresas e dos interesses económicos que vêem neste "cluster" mais uma oportunidade se continuarem a viver à conta de subsídios e oligopólios protegidos pelo Estado, através dos partidos do Bloco Central e seus esporádicos acólitos.

[quote] A realização deste programa terá como efeito a recuperação da actividade no sector da construção e obras públicas, e, também, um incremento dos sectores eléctrico e metalomecânico de alta tecnologia, quer para fabricos e equipamentos, quer quanto às actividades de instalação e montagem.[/quote]

Voltamos ao caso do Alqueva... Provem o que dizem. Falem-nos do Alqueva!!
[quote] Serão igualmente de referir os efeitos positivos, quer na dinamização dos serviços que acompanham sempre estas realizações, quer na criação de emprego local estável e de qualidade.
[/quote]

Sabe a CIP quantas pessoas são precisas para a manutenção local de uma barragem/central eléctrica? Nunca passearam pelas barragens de Portugal? Vêem por lá muitos trabalhadores, vêem?

[quote] A dinamização da actividade destes sectores vitais da economia portuguesa e os efeitos positivos óbvios no emprego por ela induzidos serão um passo firme no sentido da retoma económica.[/quote]

Enviar comunicados vazios de conteúdo não custa nada. Mas é uma pena quando o seu autor é a organização que representa a indústria portuguesa. Na realidade, não passa do acto falhado de uma entidade virtual.

[quote] Por estas razões, a CIP saúda este passo no sentido do pleno aproveitamento das capacidades e do conhecimento já existentes no País e, mais uma vez, insiste com o Governo para que prossiga nos rumos agora traçados dentro dos calendários previstos, e sem hesitações.[/quote]
O modelo económico que comanda a política portuguesa chegou a um beco sem saída. O betão está pela hora da morte e pouco haverá a fazer neste domínio daqui para o futuro. Mas isto não significa que não haja coisas muito importantes por fazer. Pelo contrário! Basta pensar nas oportunidades económicas associadas à mudança do paradigma energético e industrial na era pós-carbónica.
Precisamos de fazer uma travagem de emergência à escala mundial. Isso significará menos consumo de petróleo e de gás natural, menos emissões, cidades mais eficientes, maior segurança alimentar, maior sustentabilidade e autonomia dos sectores produtivos, mudança drástica de comportamentos económicos, sociais e culturais, muito maior solidariedade e activismo cívico... e um Estado bem mais esclarecido einterveniente.
Como se vê, não faltam oportunidades!

2 comentários:

Raquel Sabino Pereira disse...

Aproveito para informar que está a decorrer o segundo passatempo com prémio do Atlântico Azul!

You are welcome to participate in the second quiz with prize of Atlântico Azul!

Anónimo disse...

Meu caro:

Em http://www.lusavoz.blogspot.com/ achará coisas decerto interessantes para si.

Cf. especialmente comentários aos postais de 26 de Julho e de 3 de Setembro.