sexta-feira, outubro 27, 2006

2006 Odisseia do Cartismo

Uma das melhores análises da doutrina monárquica, de que só agora tomámos conhecimento, deve-se a Luís Aguiar Santos, no blog da Causa Liberal. Aqui se reproduz o parágrafo final e recomenda-se que se visite o Blog. As desempoeiradas intervenções de Luciano Amaral, Patrícia Lança, Rui Albuquerque, entre outras, são de saudar: mostram a Causa Liberal como um dos poucos movimentos de ideias que não verga o pensamento português às fotocópias de Georgetown. Ainda assim, pode-se discordar da cataláxia excessiva de alguns dos autores no blog. Mas vale a pena lê-los. O Blog das Causas recomenda-os, em conjunto.

[§40] Considerações finais: A minha adesão à Monarquia está muito pouco ligada a uma certa visão do passado nacional muito comum entre os monárquicos portugueses. Eu penso que o Integralismo Lusitano jogou aí um papel muito importante, construindo uma memória histórica em que muitas vezes os monárquicos se encerram, tornando a Monarquia quase numa religião de substituição. Isso aconteceu quase logo após 1910, já que essa nova doutrina revigorou ou fundiu-se com o velho pensamento miguelista ou tradicionalista, tornando-se hegemónico no campo monárquico. Praticamente deixaram de existir em Portugal monárquicos constitucionais, no sentido que eu dou a esta designação: partidários da legitimidade de D. Pedro e de substância jurídica e política cartista, crentes mais numa visão da Monarquia como instituição evolutiva do que numa ideia, que crê fantasiosa, de um modelo perfeito, castiço e “tradicional” que supostamente perecera com D. Miguel às mãos de um novo formato monárquico “estrangeiro” e adulterado, representado pelo chamado “constitucionalismo liberal”. No que me toca, nunca tendo sido um integralista (embora, há alguns anos, chegasse a ter sido algo de próximo), penso que a tradição cartista é aquela que representa realmente uma experiência de continuidade constitucional na história portuguesa (pelas razões que expus no ponto VII [§31] desta carta), encontrando simultaneamente uma formulação equilibrada da partilha da soberania entre vários poderes e legitimidades (dinástica, judicial, parlamentar) e dos direitos e deveres dos súbditos. Mas, independentemente dos formatos políticos, tenho comigo esta, por assim dizer, intuição, de que a Monarquia hereditária é um bem civilizacional a preservar e que ela gera, na relação muito humana ou no pacto de lealdade entre príncipe e súbdito, o mais fiável ponto de apoio da liberdade pessoal num mundo inevitavelmente pouco propenso a resguardá-la de armadilhas e atropelos.

1 comentário:

Francisco Canelas de Melo disse...

Se algo o Integralismo Lusitano nunca foi, é ou será, liberal. Terá reformulado lacunas do passado, mas surge precisamente para combater o liberalismo e suas causas, a principal, a queda da monarquia.

O meu caro amigo tem que ler muito do integralismo...Aproveita bem a Unica semper Avis.